quinta-feira, 19 de maio de 2011

ESPAÇO LITERÁRIO

Albuquerques

Era duas da manhã, Catarina ouve um barulho seguido de outro barulho. Certamente ela achara que Frederico, seu marido, como das outras vezes, bêbado havia tropeçado em alguma coisa. Levantou-se para ver o que acontecera de fato. Ao ascender à luz do corredor da sala, Catarina deparou-se com o corpo de Frederico estirado no tapete, uma faca encravada nas costas e ao lado um bilhete sujo de sangue escrito: “Nunca mais”.

Faz 20 anos do ocorrido, mas muita gente na cidadezinha de Brisa das mangueiras ainda comenta a história desse casal, e do seu final trágico. Naquela época foi um grande acontecimento.

Sabia-se que Frederico Inácio de Albuquerque, era um homem bom, de boa índole. Ele trabalhava como comandante de embarcações e tinha a esposa, Catarina, e um filho, chamado Daniel, que naquela época estudava para ser padre, hoje em dia é bispo da “Catedral das lamentações” na Cidade de Brisa das Mangueiras. A vizinhança comenta que dias antes da morte de Frederico, ele andava muito alegre, cantarolando vez ou outra pelas avenidas. Enquanto sua esposa se trancafiava no quarto. Ele estava sem forças para suportar a rejeição da mulher, que perdera sua mãe meses antes e apegou-se mais com as velas e com os terços do que com ele. Então quando chegava em casa, abria a garrafa de wisky e colocava em alto som *Ray Charles, e enquanto rodava o dedo indicador no líquido enferrujado, pensara na doce e bela mulher que um dia Catarina havia sido, e nunca conseguia se lembrar em que momento tornou-se um homem egoísta e apático.

Sabia-se também que Frederico com a ausência da esposa, passou a ter um caso com Beatrice, moça de aspirações maiores que havia conquistado o olhar dele. “Encantou-me aqueles pares de pernas cruzadas e seios abrangentes, mas aqueles olhos murchos partiram meu coração”. Ele dissera na mesa do bar. Beatrice era casada com Ivan, sujeito de má índole que fazia pequenos assaltos em cidades vizinhas, ele não tinha caráter, nem amor por ela. Frederico e sua amante encontravam-se geralmente na pensão da Dona Rosa. Eles faziam pouco barulho e saiam no segundo cantar do galo. A cidade toda sabia do caso, uns não aprovavam e até ameaçavam contar para Catarina, outros eram mais plácidos.

No dia da morte de Frederico algumas pessoas cruzaram seu caminho enquanto ele cantava bêbado indo em direção a sua residência, inclusive seu filho Daniel, que pediu ao pai para tomar um banho para amenizar a embriaguez. Não demorou muito para se ouvir um grito agudo e intenso vindo da casa dos Albuquerques. Contam os presentes que viram Catarina debruçada sobre o corpo ensangüentado do marido, e sua voz ecoava gemidos tenebrosos de dor. Desculpe meu amor, meu amor, eu sabia que um dia eles descobririam, eu sabia. Ela repetia isso diversas vezes.

Catarina sabia do caso amoroso de seu falecido esposo, ela temia que o pior chegasse, mas pobre coitada não tinha estrutura emocional para resolver mais nada, ela referia-se ao marido de Beatrice, o dia que ele descobrisse mataria os dois a sangue frio, Ivan estava ocupado com coisas demais e não sonhava com o acontecimento. A cidade toda abafou a história. Mas de certo todos sabiam quem tinha sido o mentor, só não sabiam pra onde ele haveria fugido, só sabiam que era um homem justo.

* Ray Charles, cantor de Blues. Nascido na Geórgia, Estados Unidos da América.

Juliana Castro

A Mais Perfeita Obra Inacabada.


Por várias vezes me peguei sozinha,
Apagando o passado,
Colorindo o futuro,
E desenhando sonhos...
Por várias vezes rabisquei meus pensamentos,
Refiz meus planos,
E reinventei momentos...
Por vários anos,
Pintei minha vida,
Compus minha própria canção,
E escrevi a minha história...
Durante toda minha existência,
Fui compondo
E tentando colorir, escrever e reescrever
Essa obra de arte inacabada
Que costumo chamar de vida.

Por Raylane Cristina

Começando e terminando

Ideias não me faltam, mas não sei como começar esta crônica. Eu posso muito bem começar falando de alguns casos que me ocorreram, ou aos meus amigos, o problema é que não entendo essa falta de criatividade que tenho na hora de iniciar um parágrafo, parece que não sei iniciar coisa alguma na minha vida.

Quando vou apresentar trabalho em grupo na universidade, peço para ser o segundo, terceiro ou, quem sabe, o último, mas não me deixe ser o primeiro, pois não me sinto bem em começar explanando um assunto, um tema, ou uma crônica. Isso deve ser consequência de meu nascimento, porque sou o caçula, ou seja, fui o último a nascer, não o primeiro, e seguindo essa linha de raciocínio, devo cometer qualquer ato depois de outrem.

Em se tratando de vida amorosa, a história não é diferente, sempre foram Elas que me pediram em namoro, e terminaram. Antes que eu chegasse a dizer que não queria mais, elas vinham e diziam primeiro. Como aconteceu em alguns anos atrás, uma pessoa me traiu e, sem que eu abrisse direito a boca para falar, ouvi: não quero mais. Quero terminar!

Mas confesso que já cheguei a pedir alguém em namoro, ao menos isso. Talvez, eu esteja acostumado a esperar a atitude alheia para poder ter um ponto de partida na minha vida, o que me impede de viver, de ser uma pessoa mais comunicativa, mais extrovertida, enfim, me impede de ser alguém. Bem, mas voltando à ideia de como começar a crônica, você pode me ajudar?

Felipe Salorran

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