quinta-feira, 19 de maio de 2011

AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE: UMA VISÃO ETNOCÊNTRICA

Karen Verona Cardoso Dias – graduanda em

Ciências biológicas licenciatura.

A partir de onde minha forma particular de entender o mundo e as relações nele existentes poderão prejudicar o outro e, consequentemente, me prejudicar? Essa pergunta é muito conveniente de se fazer uma vez que ela traz em sua essência o etnocentrismo, que segundo Rocha (1984) “ é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência”.

Muitos projetos de criação de usinas hidroelétricas têm sido formulados com o propósito de geração de lucros em nossa Amazônia – recentemente três indígenas foram a Europa protestar contra a criação de três usinas, um do Peru, um de Rondônia e outro da região do Xingu1 – sem no mínimo respeitarem o direito à vida dos povos dessa região, na grande maioria indígenas. Digo direito à vida de forma ampla, porque uma vez construídas essas usinas, o ambiente em volta padece. A fauna e a flora são completamente destruídas, prejudicando assim não só aqueles que dependem da agricultura e da pesca como a sociedade num todo (Paz, 2006). O que está ocorrendo é uma imposição, um desrespeito, uma violação ao meio ambiente e à cultura nativa, os empresários tomados por uma particularidade de ver e pensar o mundo predominantemente capitalista, acabam por romper os direitos de muitos povos que residem em terras tradicionalmente ocupadas, mas que ainda vivem sob o paradigma de terras “sem dono” ou desocupadas (BATISTA, 2008). Pouco tem se praticado a alteridade, essa capacidade de enxergar o outro e suas particularidades com respeito. Quase não há diálogo e reflexão, refletir sobre a imagem do outro nos permite pensar a nossa própria identidade, aparência física, modo de ser (WHAN, 2003).

As construções de usinas hidroelétricas têm sido feitas sob desculpas da necessidade de geração de energia em regiões ribeirinhas, trazendo assim um possível “desenvolvimento” para o país, um bordão típico de governantes. Na verdade, escondem a real intenção que é a obtenção de lucros, em troca de uma destruição significativa do meio ambiente. Sabemos que as desovas dos peixes ficam comprometidas, regiões são inundadas pelo aumento do nível dos rios e os animais e pessoas em volta são obrigados a se retirarem pelas inundações causadas. Isso é progresso? Onde está a preocupação com a natureza e o respeito pelo próximo? Por acaso alguém envolvido na construção dessas usinas vai até essas comunidades – destacando aqui mais as indígenas - perguntar sobre a opinião deles em relação a isso? É óbvio o desrespeito à cidadania, simplesmente ignoram o fato dos indígenas serem cidadãos, como se fossem meros selvagens em processo de civilização, em processo de evolução, teoria que Franz Boas definitivamente era contra, para ele não havia concordância entre cultura e biologia, argumentava que até o tamanho do crânio descrito por alguns pesquisadores como fato associado ao grau de evolução de um povo simplesmente não era verdade, disse que havia exceções, fato que o tornou um crítico veemente contra craniologistas do século XIX (MATHEUS, 2010). Assim, a ida de três indígenas à Europa representou um grito, uma maneira de dizer “eu existo!”, um meio de mobilizar e sensibilizar as empresas estrangeiras envolvidas na construção e principais financiadoras das usinas, um dos locais escolhidos para a manifestação foi a Parvis des Droits de l’Homme - Praça dos Diretos Humanos em Paris – muito provavelmente escolhido propositalmente como forma de evidenciar o pensamento dos mesmos e estimular a reflexão dos que ali estavam ironicamente reunidos junto com os indígenas, dentro de um mesmo espaço por nome dos Direitos Humanos.

Dessa forma, quando minha forma de ver e interpretar o mundo passa a ser referenciada a partir do meu modo de vida, de maneira a transpor limites, fronteiras, a atribuir valores e interpretá-los com base no que eu julgo como correto, estou sendo etnocêntrico, Rocha (1984). É a partir daqui que eventualmente poderei induzir à diferença e preconceito, prejudicando o outro e consequentemente me afetando, uma verdadeira relação desarmônica estabelecida em pré julgamentos, os principais responsáveis pelo caos não só ambiental como político e religioso, como exemplo a disputa por terras entre Palestinos e Israelenses e até mesmo catequização de índios durante a colonização portuguesa, a guerra entre o Iraque e os Estados Unidos, são visões, crenças, valores, concepções diferentes. É evidente, nesses casos, a intolerância, a falta de interculturalidade.

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