quinta-feira, 19 de maio de 2011

ENTRE WANDO E RESTART

Centro Acadêmico de Jornalismo da UNIFAP - CAJU

A cidade de Macapá esteve em alvoroço durante as ultimas três semanas que antecederam o sábado, 2 de abril. O motivo: o cantor Wando, famoso pelas calcinhas que ganha das fãs em seus shows e a banda Restart, famosa pelas roupas coloridas e justas. Duas atrações totalmente distintas pelos gêneros musicais que tocam e pelos fãs que os adoram. As rádios não falavam de outra coisa, os adolescentes nas escolas não tocavam em outro assunto e as donas de casa fofocavam sobre o mesmo tema por um tempo recorde. Nos jornais os espaços para a propaganda estampavam as atrações. Atrações estas de nível nacional, que pesam no bolso e que quando se vão deixam apenas o rastro da sujeira.

Não muito distante deste alvoroço mais precisamente em um prédio antigo, que nos remete à época em que crianças com uniformes amarelos corriam atrás dos pombos, nos intervalos de aula da escola São Francisco de Assis- no nosso formigueiro, caixas de marabaixo e vozes de trovão agitam os pombos, que ainda habitam o quintal da igreja São José e nos convidam, a saber, de sua presença ali. Ao chegar ao local, na parede que divide o estúdio de onde estão as vozes de marabaixo e a sede da confraria Tucuju, Vê-se um cartaz em que se Lê: I Festival de Ladrão de Marabaixo. Explica-se a presença dos dois componentes do ritmo que “embala” nossa cidade.

Este festival de ladrão, iniciativa da confraria Tucuju, projeto cultural independente e viabilizado pelo MINC, veio com o intuito de resgatar outro importante componente do movimento do marabaixo, o ladrão. Isto porque o ladrão, recurso utilizado nas musicas para contar histórias passadas de geração em geração, também caracterizado “por roubar a privacidade e o sentimento dos integrantes da comunidade ou fato relevante ocorrido naquele determinado momento originado seu nome, vem sendo perdido, já que novos ladrões apesar de surgirem não são reproduzidos em outras comunidades.

Este festival movimentou todas as comunidades realizadoras do Ciclo do Marabaixo para gravarem seus ladrões e concorrerem no evento, que premiará e gravará em DVD 20 ladrões selecionados.

Tanta volta foi dada em torno de Wando, Restart e o Festival de Marabaixo para enfatizar a já costumeira desvalorização que a cultura local sofre. Pois, em meio a duas atrações nacionais que não enriquecem nosso povo culturalmente ou que preservam nossas manifestações, um festival de marabaixo está acontecendo e o interesse dos fãs tanto do Wando quando do Restart é zero. Muito pela falta de envolvimento da população, mas também muita pela má educação que nossa gente recebe todos os dias em dar mais valor ao que vem de fora.

Como seria se fosse o contrário? Todos comentando do festival de marabaixo, conferindo os ensaios das comunidades no formigueiro, avaliando os mais fortes, ansiosos para os dias do festival e até torcendo por um grupo. Depois comprando o DVD e ouvindo as historias de hoje através dos ladrões.

A conseqüência direta disto seria a movimentação e investimento financeiro na nossa cultura amapaense.

Ao Invés de pagar 20, 30, 40 reais para assistir Wando ou Restart pagariam no Maximo 20 reais para prestigiar o festival ou comprar o DVD. É preciso fomentar e conservar a cultura do estado.

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