quinta-feira, 19 de maio de 2011

ENTREVISTA

Entrevista com Samila Lages

Realizada por Raíssa Stèphanie

Lançado em 11 de março deste ano é um livro que promete causar polêmica dentro e fora de nosso universo literário amapaense. Com uma escrita singular e uma trama muito bem desenvolvida, A Lenda de Fausto sustenta a autenticidade de Samila Lages como escritora, posto que este é o seu primeiro romance publicado. É válido ressaltar que a autora já possui uma significativa produção a qual pode ser encontrada em um site de Fanfics, além de um conto já publicado em uma antologia.

O crítico literário Douglas Eralldo, do blog Listas Literárias definiu o livro como sendo um guia de “como corromper o corruptor” e ainda disse que a obra “pode causar escândalo, choque, entre outras sensações a leitores que não conheçam o gênero literário (yaoi), tanto escândalo quanto Marquês de Sade causou em épocas antigas”. Através deste mesmo blog, o crítico aponta a autora como uma das 10 escritoras da geração de novos talentos da literatura brasileira.

Para uma melhor compreensão sobre a autora e sua obra, realizei uma entrevista dando um enfoque desde o princípio de suas atividades como escritora até o seu atual estado de publicação deste seu primeiro romance, bem como as relações que exercem o RPG e a cultura japonesa em suas produções.

O que a motivou a escrever?

Eu, como tantos autores, comecei a escrever de tanto ler. Acho que quando você começa a viver imersa em mundos de fantasia, romance e suspense, você passa a ansiar por criar mundos semelhantes, talvez até mais interessantes (para o seu ponto de vista). Acredito que a princípio, o ato de escrever seja um tanto egoísta. Você quer criar um mundo, um personagem, um evento, coisas só suas... E então partilhá-los, ver se as outras pessoas enxergam nisso que você criou tudo aquilo que você desejava transmitir.

Desde criança eu gosto de ler, mas virei uma ‘maníaca devoradora de histórias’ quando conheci o gênero do yaoi e as suas fanfics. Para quem não conhece, o yaoi é um gênero de quadrinhos e animações japonesas que foca o enlace romântico entre homens. Por mais curioso que possa parecer à primeira vista, o yaoi é feito por mulheres e voltado para o público feminino, e atualmente conta com uma grande legião de fãs que se oculta na internet.

Na época que comecei a gostar do gênero (por volta de 2004), o material yaoi na internet era muito escasso, e uma das poucas opções que tínhamos era ler a fanfics. A fanfic deriva do termo inglês fanfiction, e é um gênero literário amador, no qual o fã de alguma série, filme, livro ou outro ‘pega emprestado’ os elementos estruturais da obra em questão (personagens, universos ou ambos) e escreve histórias a seu bel-prazer utilizando-se deles. É um trabalho sem fins lucrativos que visa apenas a diversão e a interação entre fãs.

Foram as fanfics que conseguiriam alavancar a popularidade do yaoi no Brasil, sobretudo as fanfics de Cavaleiros do Zodíaco, e foi graças às fanfics que eu me tornei uma leitora compulsiva, e logo senti necessidade de escrever também. Com toda essa influência do yaoi, e mais alguma influência de livros de fantasia e jogos de RPG (os quais, a meu ver, estimulam muito a criatividade), comecei a postar fics originais (não baseadas em qualquer série pré-existente) na internet em sites especializados em fanfics, e um deles foi o Nyah! Fanfiction, do qual faço parte até hoje com o nick de Ryoko_chan.

O Nyah! é o maior site brasileiros dedicado a fanfics, tem por volta de 80 mil usuários e 81 mil histórias. Fazer parte de lá, recebendo comentários, apoio e carinho dos leitores foi importante para deixar claro para mim mesma que eu realmente gostava de escrever. Recebi muitos comentários dizendo “olha, você escreve bem, porque não tenta transformar isso num livro?”, e logo eu moldei isso num sonho.

Como foi o processo para a publicação tanto de seu conto quanto de seu livro?

O primeiro contato real com o mundo editorial foi quando vi um chamado da Editora Multifoco procurando por contos para sua nova antologia de terror. Escrevi um e mandei, e logo recebi a notícia de que haviam aprovado, que faria parte da antologia Sinistro! 2, com lançamento na Bienal do Livro de São Paulo, em 2010. Esse contato foi de vital importância para que eu pudesse apresentar a eles o meu romance já finalizado, A Lenda de Fausto.

A Lenda de Fausto começou a ser escrita em 2006 e levou quase 3 anos para ser finalizada. Esse livro reúne várias das minhas paixões literárias: eu sempre me interessei por Idade Média, assuntos sobrenaturais, fantasia, anjos e demônios, sobretudo a questão da luta entre bem e mal. A personagem do Fausto me permitia explorar tudo isso, e ainda adicionar o yaoi, que sempre foi minha força motriz para escrever.

Sua obra possui estreita relação com a obra Fausto, de Goethe?

Apesar da fama do Fausto de Goethe, a minha base neste autor foi mínima, quase inexistente, na verdade. As duas obras possuem mais divergências do que semelhanças em acontecimentos, tom, enfoque e personagens. O meu Fausto seria um ‘santo’, doce e puro, enquanto o demônio Mefistófeles foi ‘trocado’ pelo Príncipe Belial, demônio do orgulho e da luxúria, tudo com a clara intenção de adequar a lenda ao gênero Yaoi.

Quais os recursos utilizados para o desenvolvimento de seu romance?

Com muita pesquisa histórica, geográfica e mitológica (sobretudo demonológica), eu ‘recriei’ uma Alemanha da Baixa Idade Média, ainda sob forte influência da Igreja Católica, em um universo em que demônios podem andar entre humanos, disfarçados, pregando o mal e a perversidade. Nesse contexto ocorrem contratos, profanações e perversidades, mas também inversões de papeis e de valores, amores reais e lágrimas sinceras.

Links úteis:

www.samilalages.blogspot.com

www.fanfiction.com.br/ryoko_chan

www.listasliterarias.blogspot.com/2011/03/10-consideracoes-que-tive-ao-ler-lenda.html

www.onerdescritor.com.br/2010/12/yaoi/

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